"O estudo da toponímia permite localizar as actividades quotidianas boa parte das populações urbanas e compreender a evolução e o dinamismo económico das vilas e cidades. Com efeito, nas povoações antigas, a designação das ruas relacionava-se com as actividades económicas, sociais ou políticas e traduzia as formas comuns como os homens utilizavam e afeiçoavam os espaços.
Muitos dos topónimos tradicionais chegaram à actualidade ou, pelo menos, ao princípio do século, pelo que a sua localização em mapas, plantas ou gravuras antigas fornece informações sobre a evolução da vida urbana. As actividades artesanais dominantes davam o nome às respectivas artérias: rua dos sapateiros, das ferrarias, das tanoarias, dos ourives, dos pasteleiros, da alfaiataria, da forja, dos caldeireiros, dos oleiros, dos carpinteiros, etc., são topónimos frequentes a indicarem a distribuição dos principais ofícios urbanos. O comércio de maior importância é localizável, igualmente, através de designações toponímicas: rua dos mercadores, dos tendeiros, do açougueiro do pau, praça do peixe, indicam os espaços das trocas urbanas e ajudam a reconstituir a função comercial das povoações.Por outro lado, a importância de certos edifícios traduziu-se também na nomeação das ruas: da cadeia, do paço, da alfândega, do convento.
Ao mesmo tempo que algumas pessoas ou instituições relacionadas com a fé e as práticas religiosas mereceram consagração toponímica: é o caso, por exemplo, das ruas do cabido, dos clérigos, dos cónegos, etc. A problemática do abastecimento de água está também, geralmente, presente em topónimos como rua da fonte, do chafariz, ou do poço, enquanto a persistência de designações como rossio, campo, ou terreiro, conduz à compreensão do desenvolvimento das povoações, uma vez que, em tempos passados, estes espaços situavam-se invariavelmente nas periferias dos núcleos urbanos. A sua integração, hoje, na malha urbana das vilas e cidades permite determinar as direcções de crescimento das mesmas.Também nas periferias se situavam, tradicionalmente, as actividades menos limpas e mais incómodas para os moradores, como as olarias, o tratamento dos couros, os celeiros, os currais, e os moinhos e atafonas, pelo que os topónimos subsistentes conduzem à compreensão de alguns aspectos da evolução urbana.
O estudo da toponímia permite, pois, o reencontro com as cidades e vilas antigas, com paisagens e espaços desaparecidos e com as actividades que caracterizavam o quotidiano das populações, fornecendo igualmente elementos para a compreensão das linhas gerais da evolução económica e social das localidades.
"Fonte: MANIQUE, António Pedro; PROENÇA, Maria Cândida – Didáctica da História,
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