22/01/2010

HOLOCAUSTO

Holocausto
Crianças trajando o famoso "pijama listrado",
o uniforme usado pelos judeus nos campos de concentração
A palavra holocausto deriva da combinação de dois termos gregos, holo (todo) e caustos (queimado). Originalmente, como ainda hoje, designava um ritual religioso onde uma oferenda era consumida pelo fogo. Entre os judeus, essa oferenda era um animal, normalmente um ovino. Nos tempos modernos a palavra holocausto é utilizada para identificar um devastador desastre humano: a palavra identifica, assim, o genocídio do povo judaico pela Alemanha nazi durante a Segunda Guerra Mundial.
No século XIX as comunidades judaicas de muitos países da Europa tinham atingido o respeito e um estatuto quase de igualdade relativamente às outras comunidades coabitantes nos seus países. Contudo, por vezes, os Judeus eram assediados por grupos anti-semíticos. Nas primeiras décadas do século XX, perante as graves dificuldades sócio-económicas sentidas, esta situação viria a agravar-se.
Quando o regime nazi se instalou na Alemanha, em Janeiro de 1933, foram de imediato lançadas medidas anti-semíticas. Por exemplo, o estatuto de judeu foi redefinido e obrigava à determinação da religião dos avós: qualquer indivíduo que tivesse algumas gerações de antepassados judaicos era logo rotulado como judeu, independentemente de pertencer ou não a uma comunidade judaica. Mas o processo era muito mais complexo. Por exemplo, havia os meios judeus. Estes eram apenas considerados judeus se pertencessem a essa religião, ou se se casassem com uma pessoa dessa raça e credo. Todos os outros meio-judeus e pessoas que tinham um só avó judeu eram chamados Mischlinge. Esta importância que os nazis atribuíam à descendência era tida como uma forma de afirmação da raça, mas mais do que isso, era um meio de identificar e delimitar os alvos das leis discriminatórias.
Entre 1933 e 1939, o Partido Nazi, aliado a Agências Governamentais e aos Bancos, obrigou ao afastamento dos judeus de toda a vida económica. Os indivíduos considerados não arianos eram destituídos dos postos nos serviços públicos, as empresas judaicas foram fechadas ou vendidas por um preço inferior ao razoável e entregues a outras companhias que eram pertença ou administradas por não-judeus.
Neste processo de "arianização", as empresas e os negócios dos Judeus transitaram para donos germânicos, com as poupanças e lucros destas vendas "amealhados" pelos hebreus a serem também abrangidos por pesadas taxas especiais.
Em Novembro de 1938, o assassinato de um diplomata alemão em Paris, perpetrado por um jovem judeu, motivou o incêndio de todas as sinagogas na Alemanha, bem como a detenção de centenas de elementos judaicos e a destruição de muitas montras das suas lojas, numa noite conhecida como a Kristallnacht. Esta noite seria o aviso para os Judeus da Alemanha e da Áustria emigrarem. Algumas centenas de milhares de pessoas procuraram refugiar-se noutros países, mas um considerável número de judeus, sobretudo os mais velhos e os mais pobres, permaneceram na Alemanha.
Com o início da Segunda Guerra Mundial, em 1939, o exército alemão ocupou a parte ocidental da Polónia e assim passou a exercer o seu domínio sobre mais 2 milhões de judeus, que foram atingidos por restrições ainda mais rígidas do que as dos seus congéneres alemães.
Os Judeus polacos foram encerrados em ghettos, limitados por arame farpado, chefiados por um conselho responsável pelo alojamento, condições sanitárias e actividades produtivas. A comida e o carvão entrava nos ghettos, de onde saíam produtos manufacturados para o exterior. A escassa alimentação, também pouco calórica, era por vezes completada por alimentos obtidos no mercado negro, onde atingiam preços muito elevados. O alojamento era também insuficiente para o número de pessoas concentradas nestas verdadeiras prisões, onde se propagava o tifo e outras doenças.
Em Junho de 1941, os exércitos alemães invadiram a União Soviética (URSS), ao mesmo tempo que as SS, as unidades de ''choque'' da polícia do Partido Nazi, enviavam 3000 soldados ''especializados'' para a URSS para liquidar todos os judeus na região - um dos mais importantes dirigentes das SS foi o coronel Adolf Eichmann, que na década de 60 foi julgado e executado em Israel (cinicamente, Eichmann declarou perante os juízes que só lamentava o facto de ter conseguido eliminar seis milhões de judeus e não os doze milhões que constavam das suas previsões iniciais).
Estes esquadrões, os Einsatzgruppen, faziam os seus massacres em valas e ravinas perto das cidades russas, sob os olhares de soldados e residentes. Somente muito tempo depois é que os rumores desses horrores chegaram até à comunidade internacional.
Um mês depois destas operações na URSS, no Verão de 1941, Hermann Goering, a segunda figura na hierarquia do regime, enviou uma directiva para o líder da Segurança do Reich, Reinhard Heydrich, incumbindo-o de organizar a "Solução Final" da questão judaica, para a totalidade da Europa dominada pelos nazis.
Em Setembro de 1941, os judeus da Alemanha foram forçados a usar uma estrela amarela e, meses depois, milhares de pessoas foram deportadas para os campos da Polónia e para cidades tomadas aos russos. Era a preparação dos campos de concentração, dos tristemente célebres "campos de morte".
Estes campos, construídos principalmente na Polónia, estavam apetrechados com equipamentos especiais de gás para matar os judeus e eram ocupados por indivíduos vindos dos campos das imediações; por exemplo, só do ghetto de Varsóvia vieram aproximadamente 300 000 prisioneiros. Nas primeiras viagens eram deportadas as mulheres, as crianças e os idosos, que não eram tão produtivos quanto os homens. Os judeus em condições para trabalhar ficavam nas fábricas, mas também acabariam por ser mortos mais tarde.
O maior volume de deportações ocorreu nas estações do Verão e do Outono de 1942, numa altura em que começaram a chegar algumas notícias dos massacres à Grã-Bretanha e aos Estados Unidos. Em Abril de 1943, os judeus que ainda sobreviviam em Varsóvia, ofereceram resistência aos alemães durante três semanas, no célebre motim do ghetto da capital polaca.
Estas deportações geraram alguns problemas políticos e administrativos aos nazis. Nos países satélites da Alemanha, como a Eslováquia e a Croácia, eram feitas negociações para efectuar as deportações. Na França Livre, o governo de Vichy, que tinha adoptado as leis anti-semíticas, deu início às detenções antes até que a Alemanha o solicitasse. O governo fascista italiano, no entanto, recusou-se a cooperar até ao dia que o país foi ocupado pelas tropas do Reich, em 1943, o mesmo sucedendo com a Hungria, obrigada a colaborar quando foi invadida em Março de 1944. A Roménia, um país colaborador no massacre de judeus na URSS, também recusou entregar os seus judeus. Na Dinamarca, o povo resolveu salvar os judeus, ao transportar muitos deles para a Suécia, um país neutro.
Sempre que possível, os alemães recolhiam os pertences dos deportados, tanto na Alemanha como em países como a França, a Bélgica e a Holanda.
O transporte dos judeus para os campos de concentração era feito normalmente de comboio, tendo a polícia que pagar ao estado alemão uma viagem de terceira classe (apenas de ida) por cada deportado. Quando o número era macabramente igual ou superior a 1000, as pessoas enchiam os vagões mediante metade da tarifa. Nestas viagens morosas, muitos idosos e crianças morriam.
Na Polónia, os pontos de chegada destes comboios eram em Kulmhof, Belzec, Sobibor, Treblinka, Lublin, e Auschwitz (em polaco, Oswiecim). Kulmhof tinha câmaras de gás; em Belzec havia equipamentos de monóxido de carbono; em Lublin os deportados foram gaseados ou simplesmente abatidos e em Aushwitz mais de um milhão de judeus sucumbiu nas câmaras de gás. Auschwitz era composto por vários campos prisionais. À entrada do perímetro desses campos, junto à estação de comboio, ainda se lê a inscrição com que os nazis saudavam os judeus: Arbeit macht freie (o trabalho liberta).
Este último campo de concentração ficava perto de Cracóvia, e ao contrário dos outros campos, nele era utilizado um gás de rápido efeito: o cianeto de hidrogénio. As suas vítimas vinham de todos os países da Europa ocupada ou pró-nazi, da Noruega à Grécia; eram judeus e não judeus que, em muitos casos, foram sujeitos a experiências médicas, em particular a esterilizações. Alguns milhares foram utilizados pelo notório Dr. Joseph Mengele (o Anjo da Morte de Auschwitz) em experiências médicas macabras e degradantes, acabando igualmente nas câmaras de gás, quando não sucumbiam durante as próprias experiências. Se, nalguns casos, estas cobaias humanas eram utilizadas, contrariando os ditames da ética médica, como puros e simples animais de laboratório, em tentativas de encontrar vacinas ou outros tratamentos específicos para epidemias que atingiam os militares alemães, noutros casos não passavam de vítimas da demência de alguns homens e da brutalidade desumana do próprio sistema.
Embora só os judeus e os ciganos fossem sistematicamente mortos com gás, muitos dos outros prisioneiros morreram de fome, de doença ou foram pura e simplesmente abatidos. Para apagar os vestígios destes horrores foram construídos fornos crematórios para incinerar os corpos depois do extermínio com o gás.
Em 1944, este campo foi fotografado pelos Aliados que procuravam alvos industriais. As suas fábricas (nomeadamente da I. G. Farben, de produtos químicos) foram bombardeadas, mas não as câmaras de gás.
Esta política de genocídio, sem paralelo na História anterior da Humanidade pelo carácter sistemático do seu planeamento e da sua execução e pelo saldo em termos demográficos, encontrou algumas resistências significativas, que não se podem deixar de registar, apesar do seu carácter disperso: constituição de redes clandestinas de emigração (que, por exemplo, trouxeram muitos fugitivos judeus para Portugal, de onde partiam depois para a América), apoio de diplomatas sensíveis aos direitos humanos (por vezes contrariando as instruções dos seus governos, como o cônsul português Aristides de Sousa Mendes, que salvou alguns milhares de pessoas) e levantamentos armados, em desespero de causa, de algumas comunidades judaicas (o mais célebre dos quais foi a revolta do Gueto de Varsóvia).
No final da Segunda Guerra Mundial, milhões de judeus, eslavos, ciganos, Testemunhas de Jeová e comunistas, entre muitos outros, haviam perecido no Holocausto. Estima-se que pereceram às mãos dos nazis mais de 5 milhões de judeus, 3 milhões dos quais em campos de extermínio, 1,4 milhões em operações de fuzilamento e mais de 600 000 nos ghettos.
Depois do fim da guerra, os Aliados, enquanto forças vitoriosas, fizeram uma grande pressão para se estabelecer a pátria judaica para os sobreviventes do Holocausto. Passados 3 anos após a derrota alemã foi formado o estado sionista de Israel, a terra prometida dos judeus.
Como referenciar este artigo:
Holocausto. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2010. [Consult. 2010-01-22].
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